A revista The Economist publicou em 16 de abril de 2025 dois artigos de liderança contundentes contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, acusando-os de concentrar poderes além do previsto e de atuar de forma excessivamente monocrática em casos de grande repercussão política. Em resposta, no dia 19, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, emitiu uma nota oficial para rebater as críticas, defendendo a legitimidade das decisões e destacando a necessidade de atuação firme da Corte frente a ameaças à democracia. A seguir, apresentamos um apanhado dos principais pontos levantados pela revista, a ré‑plica do STF e o clima político que envolve esse debate.

Principais críticas da The Economist
1. Concentração de poder em Alexandre de Moraes
A matéria “Brazil’s Supreme Court is on trial” alerta para o uso frequente de decisões individuais (monocráticas) por parte de Moraes, julgadas “poderes surpreendentemente amplos” que teriam afetado a liberdade de expressão no país citeturn0search0. Um exemplo citado é a suspensão da plataforma X em agosto de 2024, determinada pelo ministro após a empresa deixar de manter representação legal no Brasil, medida vista como inédita em democracias consolidadas citeturn0search0. Outro ponto refere‑se à remoção de perfis ligados ao ex‑presidente Jair Bolsonaro, com a revista alertando que critérios vagos de “desinformação” podem levar a censura de expressões políticas legítimas.
2. Forma de julgamento de Jair Bolsonaro
A Economist questiona o fato de processos penais contra Bolsonaro, acusado de planejar um golpe em 2022, terem sido conduzidos pela Primeira Turma, composta por cinco ministros, em vez de pelo plenário completo de 11 magistrados — o que, segundo o periódico, pode gerar percepção de parcialidade, considerando o histórico de ataques de Bolsonaro a Moraes .
3. Queda de confiança no STF
Com base em pesquisa do PoderData, a revista aponta que apenas 12% dos brasileiros qualificavam o STF como “bom” ou “ótimo” em dezembro de 2024, contra 31% em 2022, associando a queda ao alargamento das competências da Corte, inclusive para regulamentar o discurso nas redes sociais.
4. Interferência em temas legislativos
A Economist critica a atuação do STF em assuntos que, tradicionalmente, cabem ao Congresso Nacional, como a regulação de conteúdo online, sugerindo que essas pautas sejam retomadas pelo Legislativo para preservar o equilíbrio entre os Poderes.
Resposta oficial do STF
Em nota divulgada em 19 de abril de 2025, Luís Roberto Barroso apresentou os principais pontos de defesa da Corte:

1. Papel de guardião da democracia
Barroso ressaltou que o STF atuou de forma necessária para conter graves ameaças, como a invasão das três sedes do Poder em 8 de janeiro de 2023, tentativas de atentados a bomba em Brasília e o plano de golpe de 2022 que incluía inclusive esquemas de assassinato de autoridades .
2. Nível de confiança no tribunal
Contrariando o índice do PoderData, Barroso citou pesquisa DataFolha apontando que 59% dos brasileiros confiam no STF (24% “muito” e 35% “um pouco”) e negou existirem evidências de crise de legitimidade.
3. Validação de decisões monocráticas
O presidente do STF explicou que as decisões individuais de Moraes foram posteriormente ratificadas pelo plenário, seguindo rigorosos trâmites regimentais e assegurando o contraditório.
4. Suspensão da plataforma X
Barroso esclareceu que o bloqueio se deu pela ausência de representação legal da empresa no Brasil, não por conteúdo, e que a normalização ocorreu assim que a X atendeu às exigências judiciais.
5. Procedimento do julgamento de Bolsonaro
Ele frisou que o regimento interno estabelece que autoridades são julgadas nas turmas, não no plenário, e que não há parcialidade, pois qualquer ministro que fosse alvo de ataques não estaria impedido de atuar segundo as normas constitucionais.
Repercussão e contexto político
As críticas da Economist e a resposta do STF reacenderam o debate sobre o ativismo judicial e o equilíbrio entre os Poderes.
- Defensores do STF, como o portal Brasil 247, acusaram a revista de favorecer narrativas golpistas e recordaram posicionamentos anteriores da Economist em relação à política brasileira citeturn1search3.
- Críticos do tribunal utilizaram redes sociais para ecoar as preocupações da revista, destacando riscos de arbítrio judicial e de enfraquecimento do Legislativo.
Esse embate ocorre em meio a um clima de polarização que marca o Brasil pós‑eleições de 2022, quando temas como combate à desinformação e independência do Judiciário ganharam centralidade nas discussões públicas.
O caso ilustra como decisões do STF, sobretudo aquelas de caráter monocrático, têm impacto direto nas liberdades civis e na percepção de imparcialidade do Judiciário. A discussão sobre o alcance das competências do tribunal deve evoluir no Congresso e na sociedade, em busca de mecanismos de transparência e de confirmação colegiada em temas sensíveis. O STF, por sua vez, permanece com a missão de zelar pela Constituição, enquanto enfrenta o desafio de manter a confiança pública e cumprir seu papel contramajoritário em um ambiente político tenso.