Senador e ex-vice-presidente afirma que não precisa de ‘orientação’ para depor e que responderá por seus próprios atos. Oitiva foi determinada no âmbito do inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente da República, negou neste domingo, 8 de junho, ter recebido qualquer tipo de pressão ou orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o conteúdo de seu depoimento à Polícia Federal. A declaração de Mourão ocorre após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinar que ele seja ouvido no inquérito que investiga a suposta trama golpista para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Ao ser questionado por jornalistas em Brasília sobre uma possível articulação com Bolsonaro para o depoimento, Mourão foi direto. “Isso não existe. Não conversei com o ex-presidente sobre esse assunto. Não recebi nenhuma orientação nem sofri qualquer tipo de pressão. Sou um homem de Estado, respondo por meus atos e minhas palavras”, afirmou o senador.
A intimação para que Mourão preste depoimento foi determinada por Moraes no final da última semana. Como vice-presidente à época dos fatos investigados, ele é considerado uma testemunha fundamental, pois participou de reuniões no Palácio da Alvorada e acompanhou as discussões que se seguiram ao resultado eleitoral. Sua oitiva é aguardada com grande expectativa, pois pode trazer novos elementos à investigação, principalmente por sua relação historicamente mais distante e por vezes crítica em relação à ala mais ideológica do governo Bolsonaro.
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A declaração do senador busca demarcar sua independência e se contrapor a eventuais suspeitas de que os depoimentos dos envolvidos na trama poderiam ser combinados. A Polícia Federal e o STF buscam identificar se houve uma tentativa de coordenação entre os investigados para obstruir a justiça ou apresentar uma narrativa unificada.
A intimação de Mourão ocorre na mesma semana em que o STF inicia a fase de interrogatórios dos oito principais réus do caso, incluindo o próprio Jair Bolsonaro e ex-ministros militares como os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno. A fala de Mourão, portanto, o posiciona como uma peça potencialmente isolada no tabuleiro, disposto a apresentar sua própria versão dos fatos, o que pode ter implicações significativas para o futuro dos demais investigados. A data de seu depoimento à Polícia Federal ainda será marcada.