Medida para arrecadar R$ 18 bilhões em 2025 gera críticas e ajustes após pressão do mercado
O governo federal brasileiro anunciou, em 22 de maio de 2025, uma proposta para aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como parte de sua estratégia para reforçar a arrecadação. No entanto, menos de 24 horas depois, a decisão sofreu uma reviravolta parcial: a alta planejada para fundos de investimento que aplicam no exterior foi descartada, enquanto o aumento para transações da população, como compras internacionais, foi mantido. A mudança, publicada no Diário Oficial da União em 23 de maio, reflete uma resposta às pressões do mercado financeiro e revela uma alteração significativa no discurso oficial.

O que é o IOF e por que o governo quis aumentá-lo?
O IOF é um tributo cobrado sobre operações financeiras, como compras com cartão de crédito no exterior, remessas internacionais e aquisições de moeda estrangeira. Inicialmente, o governo propôs elevar a alíquota de zero para 3,5% sobre aplicações de fundos de investimento no exterior e aumentar de 1,1% para 3,5% as taxas sobre operações como compras internacionais e aquisição de dinheiro em espécie. O objetivo era claro: arrecadar R$ 20,5 bilhões em 2025 para cumprir metas fiscais em meio a desafios econômicos. Segundo a Receita Federal, a revisão posterior ajustou essa estimativa para R$ 18 bilhões.
Pressão do mercado e o recuo parcial
A reação do mercado financeiro foi imediata. Representantes do setor alertaram que o aumento do IOF para fundos de investimento poderia desencadear uma fuga de capitais, prejudicando a economia. Após reuniões emergenciais no Palácio do Planalto, o governo cedeu: a alíquota para esses fundos foi mantida em zero, e remessas de pessoas físicas para investimentos no exterior permaneceram em 1,1%. “Foi um ajuste após diálogo com o mercado”, declarou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao G1, negando que a decisão impactasse a “grande massa” da população.
Para os cidadãos, porém, não houve alívio. O IOF sobre compras internacionais com cartões de crédito, débito ou pré-pagos subiu de 3,38% para 3,5%, interrompendo uma redução gradual planejada até 2029. A compra de moeda estrangeira em espécie também passou de 1,1% para 3,5%, afetando diretamente consumidores e pequenos comerciantes que dependem de importações.

A reversão do aumento para fundos de investimento foi vista como uma vitória do setor financeiro, que evitou custos adicionais em um momento de incerteza global. “O governo entendeu que taxar os fundos seria um tiro no pé”, analisou Mariana Costa, economista da XP Investimentos. Para a população, no entanto, o impacto é outro. Em cidades como Feira de Santana, comerciantes temem que o encarecimento de produtos importados pressione os preços, enquanto consumidores reclamam da falta de transparência. “A gente já paga tanto imposto, e agora mais isso?”, questionou João Silva, autônomo de 34 anos.
A oposição também reagiu. O deputado Luciano Zucco (PL-RS) apresentou um projeto para barrar o reajuste, acusando o governo de “punir quem trabalha” enquanto favorece o mercado financeiro.
Inicialmente, o governo justificou o aumento do IOF como uma medida de “justiça fiscal” e necessidade econômica. “Precisamos equilibrar as contas públicas”, afirmou Haddad dias antes do anúncio. Após a pressão do mercado, o tom mudou. O ministro passou a enfatizar que o recuo para os fundos foi um “ajuste técnico” e que o IOF atual ainda seria inferior ao praticado no governo anterior. “Não há prejuízo à população”, declarou, tentando minimizar críticas.

Essa guinada no discurso revela uma tentativa de equilibrar a narrativa entre responsabilidade fiscal e acomodação ao mercado. Para analistas, porém, a decisão expõe a influência do setor financeiro sobre as políticas públicas. “O governo mostrou que ouve mais os bancos do que os cidadãos”, opinou Roberto Almeida, professor de economia da UFRJ.
O recuo parcial no aumento do IOF levanta questões sobre a estratégia fiscal do governo Lula. Embora a medida garanta alívio ao mercado financeiro, ela pode ampliar a percepção de desigualdade entre os favorecidos pela decisão e a população que arcará com os custos. Com a meta de arrecadação ajustada para R$ 18 bilhões, resta saber se o governo buscará outras fontes de receita ou se enfrentará novos embates com o Congresso e a sociedade.