Um levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela uma realidade preocupante: as pessoas negras são as principais vítimas de assassinatos no Brasil. De acordo com o Atlas da Violência 2024, em 2022, quase 80% dos homicídios no país foram contra negros, que representam pouco mais da metade da população brasileira.

Os números mostram uma diferença significativa. A taxa de homicídios entre pessoas negras chegou a 27,5 para cada 100 mil habitantes, enquanto entre não negros foi de 14,5. Em outras palavras, proporcionalmente, negros têm quase o dobro de chance de serem assassinados.
A situação varia pelo país. No Nordeste, por exemplo, os assassinatos de negros subiram 5,2% entre 2012 e 2022. Já entre os não negros, houve uma queda de 10,3% no mesmo período. Isso indica que a violência tem se concentrado cada vez mais nas comunidades negras.

Outro ponto que chama atenção é a ação da polícia. Em 2022, 83,1% das pessoas mortas por policiais eram negras. Esse dado levanta debates sobre como a violência policial atinge de forma desigual os grupos raciais no Brasil.
Especialistas explicam que esses números não aparecem por acaso. O racismo estrutural e a desigualdade social estão na raiz do problema. Muitas vezes, pessoas negras vivem em condições mais vulneráveis, com menos acesso a educação, saúde e trabalho. Além disso, crimes contra negros nem sempre são investigados com rigor, o que alimenta a impunidade.

Para mudar esse cenário, os pesquisadores sugerem medidas como investir em educação e oportunidades nas comunidades negras, além de reformas nas polícias e no sistema de justiça. Movimentos sociais também têm um papel importante ao cobrar ações do poder público e levar o tema ao conhecimento de todos.
O sociólogo Florestan Fernandes, citado no relatório, já dizia: “o racismo no Brasil é um crime perfeito”. Para ele, é algo que muitos não enxergam, mas que deixa marcas profundas em quem sofre com ele.