‘Minuta do Google’ com ‘erros de concordância’, diz Anderson Torres ao STF sobre minuta do golpe

‘Minuta do Google’ com ‘erros de concordância’, diz Anderson Torres ao STF sobre minuta do golpe

Em interrogatório a Alexandre de Moraes, ex-ministro da Justiça afirma que documento encontrado em sua casa era ‘folclórico’, ‘descartável’ e que ‘nem se lembrava’ de sua existência, tentando desqualificar a prova.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, tentou descredibilizar e minimizar a importância da “minuta do golpe” durante seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 10 de junho. Em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal sobre a trama golpista de 2022, Torres classificou o documento como uma “minuta do Google”, um texto “folclórico”, “fantasioso” e que continha até “erros de concordância”.

A minuta, que previa a decretação de um estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para alterar o resultado da eleição presidencial, é uma das principais provas materiais da investigação. O documento foi encontrado pela Polícia Federal na residência de Torres em janeiro de 2023, durante uma operação de busca e apreensão realizada enquanto ele estava nos Estados Unidos.

Durante o interrogatório, Anderson Torres afirmou que “nem se lembrava” do documento e que ele estava em uma pilha de papéis que seriam descartados. “Todo documento que chegava para mim, que eu achava que não tinha cabimento, eu mandava para uma pilha de descarte. E, para mim, esse documento é um documento folclórico, fantasioso, que seria descartado. Não tinha a menor condição”, declarou o ex-ministro.

Para reforçar seu argumento de que o texto não tinha validade ou seriedade, Torres o desqualificou tecnicamente. “Qualquer um pode entrar no Google e tem minutas de tudo quanto é coisa. Minuta de sítio, de GLO [Garantia da Lei e da Ordem]. Aquele documento é tão absurdo que tem até erros de concordância. É uma coisa folclórica, não sei de onde saiu”, disse Torres a Moraes.

A defesa do ex-ministro busca, com essa linha de argumentação, dissociá-lo da produção e da intenção golpista do documento, tratando-o como um entre muitos papéis sem importância que chegavam ao seu gabinete.

A versão de Torres, no entanto, contrasta com as provas reunidas pela Polícia Federal e, principalmente, com o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Em sua delação premiada, ratificada no STF na segunda-feira (9), Cid detalhou a existência de reuniões no Palácio da Alvorada para discutir o teor de uma minuta de golpe com o então presidente e com a cúpula militar.

O interrogatório de Anderson Torres é parte da fase final de instrução do processo no STF. Após as oitivas dos oito réus do chamado “núcleo principal”, a ação seguirá para as alegações finais da Procuradoria-Geral da República (PGR) e das defesas, antes do julgamento final pela Primeira Turma da Corte.

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