Minuta do golpe: Reunião com Bolsonaro discutiu GLO ou ‘necessidades adicionais’, diz ex-comandante da Marinha ao STF

Minuta do golpe: Reunião com Bolsonaro discutiu GLO ou ‘necessidades adicionais’, diz ex-comandante da Marinha ao STF

Em interrogatório, almirante Almir Garnier Santos nega ter debatido um golpe de Estado e contradiz frontalmente a delação de Mauro Cid, que o apontou como o único chefe militar a apoiar o plano de ruptura.

O almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 10 de junho, sua versão sobre as reuniões com o então presidente Jair Bolsonaro no final de 2022. Em seu interrogatório no âmbito da ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado, Garnier negou ter discutido uma “minuta do golpe” e afirmou que a pauta do encontro foi sobre a possível decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou outras “necessidades adicionais” para as Forças Armadas.

A declaração do almirante representa a primeira grande contestação direta, por parte de um dos réus da alta cúpula, à versão apresentada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em seu acordo de delação premiada, ratificado em depoimento na segunda-feira (9), Cid afirmou categoricamente que Garnier foi o único dos três comandantes das Forças Armadas a se colocar à disposição de Bolsonaro e a apoiar uma ruptura institucional, oferecendo as tropas da Marinha para o plano.

Confrontado com a versão de Cid pelo ministro relator, Alexandre de Moraes, Garnier negou a acusação. O ex-comandante da Marinha sustentou que o teor da conversa com Bolsonaro e os outros chefes militares foi estritamente dentro das possibilidades constitucionais para a manutenção da ordem pública, em um cenário de tensão pós-eleitoral. Ele teria caracterizado a discussão como uma análise de “cenários” e “hipóteses”, sem qualquer menção a um golpe de Estado ou à anulação do resultado das eleições.

Garnier também negou ter tido conhecimento ou acesso ao texto da chamada “minuta do golpe”, o documento que previa a decretação de um estado de sítio e a convocação de novas eleições.

O interrogatório do almirante é um momento crucial na instrução do processo. Ele é um dos oito réus do chamado “núcleo principal” da trama, que respondem por crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

Com a versão de Garnier, o STF agora tem um confronto direto de narrativas. De um lado, o depoimento detalhado do delator Mauro Cid, que aponta o almirante como um apoiador do plano. Do outro, a negação veemente do próprio almirante, que enquadra as discussões como procedimentos legais para garantia da ordem.

Os interrogatórios dos réus continuam no STF ao longo da semana. Após esta fase, o processo seguirá para as alegações finais da Procuradoria-Geral da República (PGR) e das defesas, antes do julgamento final pela Primeira Turma da Corte.

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