Em coletiva com correspondentes estrangeiros, presidente questiona autoridade dos EUA para julgar decisões da Suprema Corte brasileira e defende soberania nacional. Declaração eleva tensão diplomática com governo Trump.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com extrema dureza, neste sábado (31 de maio), à possibilidade de o governo dos Estados Unidos impor sanções a autoridades brasileiras, em particular ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros no Palácio da Alvorada, Lula questionou a legitimidade de qualquer intervenção americana em decisões judiciais do Brasil e utilizou linguagem contundente para criticar os EUA.
“Qual é a autoridade que eles [EUA] têm para ficar julgando decisões da Suprema Corte de outro país ou de um ministro? Quem eles pensam que são?”, declarou o presidente. Em seguida, Lula intensificou o tom: “Antes de olharem para o Brasil, precisam olhar para o próprio rabo, para os problemas deles. Eles matam gente lá dentro e lá fora, e querem dar palpite aqui?”.
As declarações do presidente brasileiro são uma resposta direta às recentes movimentações do governo do presidente Donald Trump. Conforme noticiado, o Departamento de Justiça dos EUA teria enviado uma carta ao ministro Alexandre de Moraes em maio, questionando sua jurisdição sobre plataformas digitais americanas em decisões de bloqueio, como no caso do Rumble. Além disso, o Ministério da Justiça do Brasil confirmou o recebimento de um ofício do governo americano com teor similar. Essas ações ocorrem em um contexto de pressão de parlamentares republicanos e figuras ligadas à administração Trump, que defendem a aplicação de sanções contra Moraes por suposta “censura” e violações da liberdade de expressão.
Durante a coletiva, Lula enfatizou a defesa da soberania nacional e da independência do Poder Judiciário brasileiro, afirmando que o Brasil não aceitará interferência externa em seus assuntos internos e em suas decisões legais.
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A contundência das palavras do presidente gerou reações imediatas no cenário político brasileiro. Parlamentares da oposição classificaram as declarações como “irresponsáveis”, “radicais” e potencialmente danosas às relações bilaterais com os Estados Unidos, principal parceiro comercial do Brasil em diversos setores. Críticos apontaram que a linguagem utilizada por Lula poderia escalar desnecessariamente as tensões diplomáticas.
Por outro lado, aliados do governo buscaram contextualizar a fala presidencial como uma defesa firme e necessária da soberania brasileira diante de pressões consideradas indevidas. No entanto, mesmo entre apoiadores, houve relatos de desconforto com a dureza da expressão “Eles matam gente”.
Até o momento, não houve uma reação oficial de alto nível da Casa Branca ou do Departamento de Estado americano às declarações de Lula, mas fontes diplomáticas não oficiais expressaram “profunda preocupação” e “surpresa” com o tom do presidente brasileiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) ainda não emitiu um comunicado, mas espera-se que atue para mitigar as possíveis consequências diplomáticas da fala presidencial. O ministro Alexandre de Moraes e o STF também não se pronunciaram sobre o apoio e as críticas de Lula.
Analistas de relações internacionais preveem um período de aumento da tensão entre Brasília e Washington, especialmente considerando a natureza assertiva da política externa da atual administração Trump. As declarações de Lula adicionam um novo e complexo capítulo ao debate sobre a atuação do Judiciário brasileiro, a regulação de plataformas digitais e as relações do Brasil com potências globais.