Na terça-feira (4/3), o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um discurso abordando temas como economia interna e externa, a guerra na Ucrânia e acordos climáticos. A fala ocorreu durante um evento no estado da Flórida, onde ele também tratou de questões relacionadas à imigração e ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge), uma iniciativa que ele tem destacado em seus pronunciamentos recentes. O jornal New York Times realizou uma checagem das informações apresentadas, e a seguir detalho os principais pontos analisados, com base no que foi reportado.

Trump afirmou que o Departamento de Eficiência Governamental (Doge), liderado por Elon Musk e Vivek Ramaswamy, teria identificado “trilhões de dólares em fraudes no governo federal”. No entanto, segundo dados disponíveis no site oficial do Doge até 2 de março de 2025, a agência alega ter economizado apenas US$ 105 milhões dos cofres públicos, sendo US$ 20 milhões provenientes de cortes em subvenções, contratos e aluguel rescindido. Não há registros que sustentem a cifra mencionada por Trump, e o restante das supostas economias não foi detalhado pela equipe do Doge.
Outro ponto levantado foi sobre a economia americana. Trump declarou que “arrecadaremos trilhões e trilhões de dólares e criaremos empregos como nunca vimos antes” por meio de tarifas sobre importações. A afirmação carece de embasamento concreto, já que projeções do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) indicam que tarifas podem gerar receita adicional, mas também elevam custos para consumidores e empresas, podendo impactar negativamente o mercado de trabalho em setores dependentes de importações. Números exatos sobre a criação de empregos não foram apresentados no discurso.
Sobre a guerra na Ucrânia, Trump disse que os Estados Unidos gastaram “mais de US$ 200 bilhões” em ajuda ao país, enquanto “outros países aliados contribuíram com muito menos”. Dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial, que acompanha o apoio financeiro à Ucrânia, mostram que os EUA comprometeram cerca de US$ 75 bilhões em ajuda militar, humanitária e financeira até fevereiro de 2025. Embora a cifra real seja significativa, ela não atinge o valor mencionado. A União Europeia, por outro lado, destinou cerca de €93 bilhões no mesmo período, o que contradiz a ideia de que os aliados contribuíram “muito menos”.
No tema dos acordos climáticos, Trump criticou o Acordo de Paris, afirmando que ele “custou aos EUA trilhões de dólares sem resultados concretos”. O Fundo Verde para o Clima (GCF), criado no âmbito do acordo, recebeu compromissos financeiros dos EUA, como os US$ 3 bilhões prometidos por Barack Obama em 2014 e outros US$ 3 bilhões anunciados por Kamala Harris em 2023. Contudo, não há evidências que cheguem à casa dos trilhões mencionadas. Além disso, relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que os esforços globais têm contribuído para limitar emissões, embora os impactos sejam de longo prazo.
Trump também abordou a imigração, repetindo a alegação de que “outros países estão enviando criminosos e doentes mentais através da fronteira”. Não há dados oficiais que corroborem essa afirmação. Relatórios do Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) mostram que a maioria dos imigrantes detidos na fronteira não possui antecedentes criminais graves, e os números de apreensões em 2024 foram de 2,5 milhões, segundo o Customs and Border Protection (CBP), sem indícios de um padrão de envio deliberado por outros países.
Por fim, o discurso incluiu uma menção à liberdade de expressão, com Trump afirmando que assinou uma ordem executiva para protegê-la. No entanto, registros mostram que sua administração atual não emitiu tal ordem até a data do discurso, e ações recentes, como ameaças de corte de financiamento a escolas que permitem protestos considerados “ilegais” pelo governo, foram criticadas pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) como contrárias à Primeira Emenda.