Em depoimento a Alexandre de Moraes no STF, Almirante Garnier Santos foi questionado sobre a parada militar de 2021, ocorrida no mesmo dia da votação do voto impresso, e negou qualquer intenção de intimidação ao Congresso.

Em seu interrogatório na ação penal que apura a trama golpista, o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, negou nesta terça-feira, 10 de junho, que o desfile de tanques e veículos blindados em Brasília em agosto de 2021 tenha tido como objetivo pressionar a Câmara dos Deputados. Questionado pelo ministro relator, Alexandre de Moraes, sobre o episódio, Garnier classificou a simultaneidade do desfile com uma votação crucial na Câmara como uma “coincidência”.
O evento em questão ocorreu na manhã de 10 de agosto de 2021, quando um comboio de veículos militares, incluindo tanques, passou pela Praça dos Três Poderes. A parada aconteceu no mesmo dia em que o plenário da Câmara analisava e votava a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, uma das principais bandeiras políticas do então presidente Jair Bolsonaro. Na época, o desfile foi amplamente criticado e interpretado por políticos da oposição, pela imprensa e por analistas como um ato de intimidação e uma tentativa de demonstração de força do Executivo sobre o Legislativo.

Durante o interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes questionou o almirante sobre as circunstâncias do evento. Em sua resposta, Almir Garnier Santos sustentou que a parada militar era parte de uma cerimônia tradicional para entregar pessoalmente ao Presidente da República o convite para assistir à “Operação Formosa”, um exercício militar anual da Marinha realizado em Formosa (GO).
“Foi uma infeliz coincidência de datas, ministro”, teria afirmado Garnier, segundo a apuração do G1. Ele explicou que o planejamento da operação e do ato de entrega do convite era feito com antecedência e não tinha relação com a pauta de votações do Congresso.
Apesar da justificativa, a insistência de Moraes no tema demonstra que a investigação busca estabelecer um padrão de conduta no qual as Forças Armadas teriam sido utilizadas pelo governo Bolsonaro para fins políticos e para criar um clima de pressão sobre as outras instituições democráticas. A negação de Garnier faz parte de sua estratégia de defesa, na qual busca se apresentar como um comandante técnico e legalista, em contraposição à versão do delator Mauro Cid, que o apontou como o único chefe de Força disposto a apoiar um plano de ruptura institucional em 2022.
Apesar do desfile em 2021, a PEC do voto impresso acabou sendo rejeitada pela Câmara dos Deputados no mesmo dia. O depoimento de Garnier sobre este e outros temas é considerado crucial para o desfecho do processo no STF.
