O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil anunciou, nesta quarta-feira (19), um aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic, elevando os juros básicos da economia de 13,25% para 14,25% ao ano. A decisão, tomada por unanimidade na segunda reunião sob o comando do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, marca o retorno da Selic ao maior patamar desde outubro de 2016, quando estava em 14,25% durante o governo de Michel Temer. O ajuste reflete a tentativa de conter a inflação persistente, que segue acima da meta, e foi amplamente esperado pelo mercado financeiro.

Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e empossado em 1º de janeiro de 2025, assumiu o BC em um cenário de pressões inflacionárias agravadas por fatores como o câmbio volátil, a alta de preços de alimentos e incertezas fiscais. Em seu comunicado, o Copom destacou que “o cenário demanda uma política monetária mais contracionista” diante da “resiliência da atividade econômica” e das “expectativas de inflação desancoradas”. A meta de inflação, fixada em 3% com tolerância de 1,5 ponto para mais ou menos, foi ultrapassada em 2024, com o IPCA fechando em 4,83%, e as projeções para 2025 subiram para 5,5%, segundo o Boletim Focus.
A alta de 1 ponto segue a sinalização dada na reunião de janeiro, quando a Selic passou de 12,25% para 13,25%. Para a próxima reunião, em maio, o Copom indicou um ajuste “de menor magnitude”, sugerindo uma desaceleração no ritmo de aperto monetário, possivelmente de 0,5 ponto, o que levaria a taxa a 14,75%. “A magnitude total do ciclo será ditada pela convergência da inflação à meta”, afirmou o comitê, mantendo a porta aberta para novos aumentos conforme o cenário econômico.

O aumento impacta diretamente o bolso dos brasileiros. Juros mais altos encarecem empréstimos e financiamentos, freiam o consumo e elevam o custo da dívida pública — cada ponto percentual adiciona cerca de R$ 48 bilhões anuais ao Tesouro, segundo a Abrainc. Por outro lado, investimentos em renda fixa, como Tesouro Selic e CDBs, tornam-se mais atrativos, enquanto a poupança segue rendendo menos que a inflação. O dólar, que vinha em alta, pode se estabilizar com a entrada de capital estrangeiro atraído pelos juros elevados.
A decisão ocorre em meio a críticas de Lula, que já chamou Galípolo de “mais sensato” que seu antecessor, Roberto Campos Neto, mas mantém ressalvas à política de juros altos. No mercado, a alta foi vista como um sinal de continuidade na gestão do BC, apesar da troca de comando. “Galípolo está seguindo o plano traçado, mas com uma comunicação mais assertiva”, avaliou o economista Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, ao O Globo. Para 2026, o Copom projeta um IPCA de 4%, ainda acima do centro da meta, indicando que a Selic deve permanecer em níveis elevados por mais tempo.