A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, em vigor a partir desta quarta-feira, 12 de março de 2025, desencadeou uma resposta imediata e contundente de parceiros comerciais ao redor do mundo. Canadá e União Europeia (UE) lideram as retaliações, enquanto países como China, Reino Unido, Austrália e Brasil avaliam suas estratégias em meio ao risco de uma nova guerra comercial global. A medida, que visa proteger a indústria siderúrgica americana, pode ter consequências de longo alcance para a economia mundial, reacendendo debates sobre protecionismo e integração econômica.

Canadá
O Canadá, maior fornecedor de aço para os EUA, com exportações que alcançaram 6 milhões de toneladas em 2024, reagiu de forma incisiva. O governo do primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou tarifas retaliatórias no valor de 29,8 bilhões de dólares canadenses (cerca de 22 bilhões de dólares americanos) sobre uma ampla gama de produtos dos EUA, incluindo bens agrícolas, industriais e de consumo. “Não temos escolha senão responder à altura para proteger nossos trabalhadores e nossas indústrias”, declarou o ministro das Finanças, Dominic LeBlanc, em coletiva de imprensa.
A tensão entre os dois países escalou brevemente quando Trump ameaçou dobrar as tarifas sobre o aço e alumínio canadenses para 50%, citando uma sobretaxa de 25% imposta pela província de Ontário sobre exportações de eletricidade para os EUA. Após negociações de última hora, ambas as partes recuaram dessas medidas adicionais, mas o Canadá deixou claro que manterá sua postura firme enquanto as tarifas americanas persistirem. Economistas alertam que o impacto pode ser severo para as economias interligadas dos dois países, que compartilham uma das maiores relações comerciais bilaterais do mundo.
Europa
Na Europa, a reação foi igualmente contundente. A União Europeia anunciou tarifas retaliatórias de 28 bilhões de dólares sobre produtos norte-americanos, incluindo jeans, uísque bourbon e motocicletas – setores estrategicamente escolhidos por seu peso político em estados-chave dos EUA. O chanceler alemão, Olaf Scholz, criticou a política americana, afirmando que “o protecionismo não é a solução para os desafios econômicos globais. Precisamos de menos barreiras comerciais, não mais”.
A Comissão Europeia, por meio de sua porta-voz, declarou que “não há justificativa econômica ou legal” para as tarifas de Trump e prometeu proteger os interesses de trabalhadores, empresas e consumidores europeus. Países como Alemanha e Holanda, grandes exportadores de aço, serão particularmente afetados, com estimativas apontando para uma queda de até 15% nas exportações de aço para os EUA. A UE também sinalizou que pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) caso as tensões comerciais se intensifiquem.
China
A China, frequentemente alvo das políticas comerciais de Trump, respondeu com firmeza. O Ministério das Relações Exteriores em Pequim afirmou que o país tomará “todas as medidas necessárias” para proteger seus interesses, acusando os EUA de práticas desleais, como dumping de aço no mercado global. Em retaliação, a China impôs tarifas adicionais de 10% a 15% sobre produtos agrícolas americanos, como trigo, milho e soja, e suspendeu licenças de importação de madeira serrada. Além disso, empresas norte-americanas foram adicionadas a listas de controle de exportação, dificultando suas operações no mercado chinês.
Analistas acreditam que a China pode usar sua posição como maior detentora de títulos da dívida pública americana para pressionar os EUA, embora tal medida seja considerada improvável no curto prazo devido ao risco de desestabilização econômica global.
Reino Unido
O Reino Unido, agora fora da UE, adotou uma abordagem mais cautelosa. O primeiro-ministro Keir Starmer expressou “profunda decepção” com as tarifas de Trump, mas evitou anunciar retaliações imediatas. “Adotaremos uma abordagem pragmática para proteger nossa indústria siderúrgica e nossos trabalhadores, mantendo todas as opções na mesa”, disse Starmer. A indústria siderúrgica britânica, embora pequena, é estratégica, produzindo materiais especializados para setores como defesa. Há especulações de que o Reino Unido possa buscar um acordo comercial bilateral com os EUA para evitar as tarifas, mas até o momento não há sinais concretos de progresso.
Austrália
Na Austrália, o primeiro-ministro Anthony Albanese classificou as tarifas americanas como “injustificadas”, mas optou por não impor medidas retaliatórias, preferindo uma solução diplomática. Trump já havia sugerido que a Austrália poderia ser isenta das tarifas, citando o superávit comercial dos EUA com o país, mas nenhuma decisão oficial foi tomada. A ausência de retaliações reflete a posição cautelosa do governo australiano, que busca manter uma relação estável com os EUA em meio a tensões geopolíticas no Indo-Pacífico.
Brasil
O Brasil, segundo maior fornecedor de aço para os EUA, com exportações de 4,1 milhões de toneladas em 2024, ainda não anunciou uma resposta oficial. A medida de Trump afeta diretamente o setor siderúrgico brasileiro, que depende fortemente do mercado americano – as exportações para os EUA são 12 vezes maiores do que para a Europa e 6 vezes maiores do que para a América Latina. Especialistas alertam .