Reportagem da “Veja” divulga gravações em que o tenente-coronel, peça-chave na investigação da trama golpista, supostamente se queixa de pressão para confirmar uma “narrativa pronta”. Revelação pode anular sua delação premiada e causar uma reviravolta no caso.

Uma reportagem da revista “Veja”, divulgada nesta quinta-feira, 12 de junho, trouxe à tona áudios que podem gerar uma reviravolta completa na ação penal que investiga a trama golpista de 2022. Nas gravações, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e principal colaborador da investigação, supostamente critica a condução do seu acordo de delação premiada, queixa-se de pressão por parte dos investigadores e ataca o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
A revelação é bombástica e ocorre apenas três dias após Cid ter comparecido ao STF e, em interrogatório, reafirmado todos os termos de seu acordo de colaboração. Nos áudios, que teriam sido gravados em conversas com um amigo após a assinatura do acordo, a postura de Cid é completamente diferente.
Segundo a reportagem, o ex-ajudante de ordens afirma que os investigadores “já tinham a narrativa deles pronta”. Ele se queixa de que a polícia queria que ele falasse sobre fatos que não teriam acontecido ou dos quais ele não tinha conhecimento. “Eles não queriam saber a verdade, eles queriam que eu confirmasse a narrativa deles”, teria dito Cid em um dos trechos.

Mauro Cid também tece críticas diretas ao ministro Alexandre de Moraes, afirmando que o magistrado “é a lei” e que já tem sua “sentença pronta”.
Implicações Jurídicas e Reações
O vazamento dos áudios tem um potencial devastador para a investigação. Pela lei, se um colaborador da justiça mente, omite informações ou age de má-fé, seu acordo de delação premiada pode ser rescindido pelo STF. Caso isso ocorra, Mauro Cid perderia todos os benefícios negociados, como a possibilidade de uma pena mais branda, e suas declarações anteriores poderiam ser invalidadas como prova contra os outros réus.
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro reagiu imediatamente à reportagem. Os advogados afirmaram que os áudios são a prova de que a delação de Cid é uma “farsa” e que ele foi coagido a incriminar o ex-presidente. A defesa informou que irá peticionar ao STF pedindo que as gravações sejam anexadas ao processo.
Até o momento, a defesa de Mauro Cid, o STF e a Procuradoria-Geral da República (PGR) não se manifestaram oficialmente sobre o conteúdo da reportagem da “Veja”. O caso agora entra em um novo patamar de complexidade, e a validade da principal prova da acusação contra a cúpula do governo Bolsonaro está em xeque.