O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu adotar uma postura cautelosa ao lidar com a crise envolvendo os 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos, que chegaram ao Brasil algemados e em condições consideradas degradantes. A estratégia, discutida em reunião no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (27), visa evitar um confronto direto com o presidente norte-americano, Donald Trump, enquanto busca garantir o respeito aos direitos humanos dos cidadãos brasileiros.
Lula reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para definir como o Brasil abordaria o caso com os Estados Unidos. Ficou decidido que o Itamaraty cobraria explicações formais sobre o tratamento dado aos deportados, mas sem adotar um tom de confronto. A embaixadora Márcia Loureiro, secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior, foi encarregada de conduzir uma reunião com o encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, para tratar do assunto.
O governo brasileiro classificou o uso de algemas e correntes como “desrespeitoso e inaceitável”, mas ressaltou que a deportação em si é um direito dos Estados Unidos, desde que realizada com respeito aos direitos fundamentais dos indivíduos.
Após o desembarque forçado em Manaus devido a problemas técnicos no avião, o governo brasileiro agiu rapidamente. Lula determinou que a Força Aérea Brasileira (FAB) transportasse os deportados até Belo Horizonte, garantindo condições dignas para o restante da viagem. Além disso, a Polícia Federal removeu as algemas e forneceu assistência médica e alimentação aos repatriados .
O Ministério da Justiça, sob o comando de Ricardo Lewandowski, destacou que a dignidade humana é um princípio basilar da Constituição Federal e que o tratamento dado aos brasileiros foi “inaceitável”. Lewandowski também afirmou que o governo não deseja provocar os EUA, mas exige que as deportações sejam realizadas com respeito.
A crise dos deportados ocorre em um momento de tensão entre os Estados Unidos e países da América Latina. A Colômbia, por exemplo, recusou-se inicialmente a receber deportados, o que levou Trump a impor sanções econômicas. Após negociações, o governo colombiano recuou, e as sanções foram suspensas .
O Brasil participará de uma reunião de emergência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na próxima quinta-feira (30), convocada pela presidente de Honduras, Xiomara Castro. O objetivo é discutir a política de deportações de Trump e buscar uma posição comum sobre o tema. No entanto, diplomatas brasileiros avaliam que a unificação de uma resposta latino-americana é improvável, devido à presença de aliados de Trump na região, como Argentina e El Salvador .
O governo Lula também utilizou o episódio para reforçar sua imagem nas redes sociais, destacando a ação rápida e humanitária em resgatar os deportados. Um vídeo postado no perfil oficial de Lula no Instagram mostrou um dos repatriados agradecendo ao presidente por garantir seu retorno seguro ao Brasil .
Além disso, a crise foi explorada para contrapor o bolsonarismo, que tem em Trump uma figura de admiração. A estratégia de comunicação do governo busca enfatizar a defesa da soberania nacional e a proteção dos brasileiros no exterior, bandeiras históricas de Lula.