Departamento de Estado anuncia abordagem mais “expedita” para cancelar vistos de pós-graduandos e pesquisadores com laços com estratégia militar-civil chinesa ou suspeitos de espionagem; Pequim condena medida.
O governo dos Estados Unidos indicou nesta quarta-feira (28) que intensificará a fiscalização e adotará uma postura mais “agressiva” e “expedita” na revogação dos vistos de estudantes de pós-graduação e pesquisadores chineses que representem um risco à segurança nacional ou estejam envolvidos em atividades de espionagem ou roubo de propriedade intelectual. A medida foi detalhada por porta-vozes do Departamento de Estado e corroborada por declarações de membros do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Segundo as autoridades americanas, a ação é uma resposta direta às preocupações crescentes com as tentativas da China de adquirir tecnologia sensível e segredos industriais, muitas vezes por meio de indivíduos ligados à sua estratégia de “fusão militar-civil” (MCF) ou a instituições de ensino com fortes laços com o Exército de Libertação Popular (PLA). O foco principal são estudantes e pesquisadores das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). “Não hesitaremos em revogar vistos de forma proativa quando recebermos informações de que um portador de visto não é mais elegível ou representa um risco para nossa segurança nacional”, afirmou um porta-voz do Departamento de Estado.
Esta política representa uma aplicação mais assertiva e acelerada de medidas já existentes, como a Proclamação Presidencial 10043, de 2020, que restringia a entrada de certos estudantes e pesquisadores chineses. O governo americano ressalta que a medida não é um banimento generalizado contra todos os estudantes chineses – que formam o maior contingente de estudantes internacionais nos EUA – mas uma ação direcionada para proteger interesses estratégicos.

A República Popular da China reagiu prontamente, condenando a nova postura dos EUA. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em Pequim acusou Washington de “politizar e instrumentalizar questões acadêmicas”, de praticar “discriminação” e de minar os intercâmbios educacionais e culturais entre os dois países. O governo chinês afirmou que a medida prejudicará os laços bilaterais e que tomará “todas as medidas necessárias para salvaguardar os legítimos direitos e interesses dos cidadãos chineses”.
Associações universitárias e acadêmicos nos Estados Unidos, embora reconheçam a validade das preocupações com a segurança nacional, manifestaram apreensão quanto ao possível impacto negativo da medida. Alegam que uma abordagem excessivamente ampla ou a percepção de perseguição poderiam desencorajar talentos globais de buscar educação e pesquisa nos EUA, prejudicando a inovação e a competitividade científica do país, além de criar um ambiente hostil para estudantes e pesquisadores de origem chinesa. As universidades também se preocupam com o impacto financeiro, dada a significativa contribuição dos estudantes chineses para suas receitas.
A intensificação da fiscalização sobre os vistos ocorre em um momento de relações tensas entre Estados Unidos e China, marcadas por disputas comerciais, tecnológicas e geopolíticas.