Em decisão unânime, colegiado do Banco Central adota tom mais duro para combater a inflação e cita incerteza sobre as contas públicas como principal preocupação. Mercado não projeta mais cortes de juros em 2025.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,50 ponto percentual. Com a decisão, anunciada na noite desta quarta-feira, 18 de junho, a taxa passa de 14,50% para 15% ao ano. Além da alta, o comunicado que acompanhou a decisão trouxe um recado duro ao mercado, sinalizando que a política de juros altos deve perdurar.
Selic: a trajetória da taxa básica de juros
Em % ao ano

No texto, o Copom afirma que “o cenário exige paciência e serenidade” e que antevê a manutenção da taxa Selic em patamar contracionista “por um horizonte de tempo suficientemente longo, que se estenderá por todo o restante do ano”. A expressão foi interpretada por analistas como um sinal claro do fim do ciclo de cortes de juros e o início de um período de vigilância estrita contra a inflação.
As razões para a alta dos Juros
O comitê justificou a decisão com base em uma série de fatores que aumentam os riscos inflacionários. Os principais pontos destacados no comunicado foram:

- Piora nas Expectativas: O Copom apontou uma “deterioração das expectativas de inflação” para 2025 e 2026, que se encontram “desancoradas” das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
- Incerteza Fiscal: A grande preocupação do Banco Central é com o cenário fiscal do país. O comunicado menciona a “incerteza persistente sobre a trajetória das contas públicas” e como isso pode pressionar a inflação. O embate recente entre o governo e o Congresso em torno de medidas para aumentar a arrecadação é um dos focos dessa incerteza.
- Cenário Externo: O ambiente internacional, com juros altos nas principais economias desenvolvidas, também limita o espaço para uma política monetária mais frouxa no Brasil.
Voto unânime e impacto na Economia
A decisão de subir os juros foi unânime, com os nove membros do comitê votando pela alta de 0,50 ponto percentual. Essa unanimidade foi vista pelo mercado como um sinal de coesão e de um compromisso renovado do Banco Central com o combate à inflação, após reuniões anteriores terem apresentado placares divididos.
Para o cidadão comum, a alta da Selic tem um impacto direto: o crédito fica mais caro. Financiamentos de imóveis e veículos, empréstimos pessoais e as taxas do rotativo do cartão de crédito tendem a subir. Em contrapartida, os investimentos em renda fixa atrelados à Selic ou ao CDI, como os títulos do Tesouro Selic e alguns CDBs, passam a render mais.
A expectativa do mercado financeiro, que já vinha se ajustando nas últimas semanas, é de que não haverá mais espaço para cortes na taxa Selic em 2025. A projeção agora é de que os juros permaneçam neste patamar elevado até que o cenário de inflação e, principalmente, a situação das contas públicas apresentem uma melhora consistente.