Troca de ironias, acompanhada em tempo real por todo o país, ocorreu durante o longo interrogatório do ex-presidente na ação da trama golpista. No depoimento, Bolsonaro negou ter liderado plano de ruptura institucional.
Em um diálogo tenso e televisionado, acompanhado ao vivo por todo o país, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, protagonizaram uma troca de ironias nesta terça-feira, 10 de junho. Durante seu interrogatório na ação penal da trama golpista, transmitido pelos canais oficiais do STF, Bolsonaro convidou o ministro para ser seu vice em uma futura chapa presidencial, recebendo um curto e direto “Eu declino” como resposta.

O intercâmbio inusitado ocorreu após várias horas de depoimento. Em um momento de aparente descontração ou provocação, Bolsonaro dirigiu a proposta a Moraes, que é o relator do caso e o responsável por conduzir o interrogatório. A recusa imediata e impassível do ministro encerrou a tentativa de quebra de protocolo, e a sessão prosseguiu com os questionamentos.
O episódio, ocorrido em uma sessão pública, evidencia o histórico de forte antagonismo entre os dois. Durante seu mandato, Bolsonaro fez inúmeros ataques públicos a Alexandre de Moraes e ao STF. Agora, como réu, encontrou no ministro o seu principal inquiridor em um dos processos mais importantes da história republicana recente.
O Teor do Depoimento
Além da troca de farpas, o depoimento de Jair Bolsonaro foi marcado por sua disposição em responder à maioria das perguntas, uma estratégia diferente da de outros réus, como o general Augusto Heleno, que optou pelo silêncio.
Durante as mais de seis horas em que foi questionado, o ex-presidente negou categoricamente ter liderado ou articulado qualquer plano para um golpe de Estado. Ele buscou minimizar a importância da chamada “minuta do golpe”, encontrada na casa de seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, alinhando-se à defesa de que se tratava de um documento apócrifo e sem validade, que ele sequer teria considerado seriamente.
O interrogatório de Bolsonaro era o mais aguardado da semana, que já ouviu depoimentos cruciais como o do seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid – que reafirmou sua delação premiada –, e do ex-comandante da Marinha, Almirante Almir Garnier Santos, que negou as acusações de Cid.
Com o fim da fase de interrogatórios, o processo agora se encaminha para as alegações finais da Procuradoria-Geral da República (PGR) e das defesas, última etapa antes do julgamento pela Primeira Turma do STF.