A escassez de mão de obra tem se tornado um obstáculo significativo para o setor supermercadista no Brasil, a ponto de atrasar a abertura de novas lojas. Foi o que afirmou Erlon Ortega, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), em entrevista concedida neste domingo, 23 de março de 2025, em São Paulo. Segundo ele, o problema, que já vinha sendo sentido ao longo de 2024, se intensificou neste ano, com cerca de 35 mil vagas abertas apenas no estado, número que reflete a dificuldade em encontrar profissionais para funções essenciais ao funcionamento das redes.

Ortega explicou que o cenário é paradoxal: enquanto o desemprego no Brasil caiu para 6,5% no trimestre encerrado em janeiro, de acordo com o IBGE, o setor enfrenta uma crise de disponibilidade de trabalhadores. Funções como operador de caixa, açougueiro, padeiro e repositor, que historicamente serviam como porta de entrada para o mercado de trabalho, agora acumulam vagas ociosas. Em cidades como Feira de Santana e Campinas, redes locais já precisaram adiar inaugurações previstas para o primeiro semestre, transferindo funcionários de outras unidades para suprir a demanda. “Há lojas prontas, com tudo estruturado, mas sem equipe para operar”, detalhou o presidente da Apas.
A mudança no perfil da força de trabalho é um dos fatores apontados por Ortega. Muitos jovens, que antes viam os supermercados como ponto de partida na carreira, têm optado por trabalhos informais, como entregas por aplicativo, ou por empreender, atraídos pela flexibilidade e autonomia. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) reforça que oito das dez ocupações mais demandadas no setor, responsáveis por quase 70% dos empregos, sofrem com a falta de candidatos. Para contornar o problema, a Apas negocia com o governo estadual parcerias que incluam egressos de programas sociais e do serviço militar nas contratações, além de discutir uma legislação que permita jornadas mais flexíveis.